quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Fecate divulga espetáculos selecionados para o 17º Festival catarinense de Teatro

Evento bate recorde de inscrições e de espetáculos selecionados, mas a situação frente ao governo do estado é preocupante.

Vinte e quatro (24) espetáculos de nosso estado estarão na programação do Festival Catarinense de Teatro (FECATE), que será realizado na cidade de Concórdia, no período de 6 a 11 de novembro deste ano, reunindo mais de 200 profissionais das artes cênicas de todo o estado e estimando um público recorde superior a 10.000 pessoas (www.17fecate.blogspot.com). A Federação Catarinense de Teatro, realizadora do evento, recebeu número recorde de inscrições, sendo o total de 74 espetáculos inscritos no processo seletivo do festival. A curadoria dos espetáculos foi realizada na cidade de Joinville no último final de semana, pelos profissionais de teatro: Jackson Zambelli (RS), Antônio José do Valle (SP) e Marisa Naspolini (SC). 

O teatro catarinense está em efervescência. Atualmente a Fecate congrega 149 grupos e profissionais de todo o estado e este ano, através de sua organização política, Santa Catarina foi o segundo estado mais representativo de todo o país no processo eleitoral do Conselho Nacional de Políticas Culturais (www.cultura.gov.br/setoriais). Estes grupos, responsáveis pela formação cultural dos catarinenses, são os que também representam nosso estado no cenário teatral nacional e internacional e o Festival é um importante momento de encontro, intercâmbio e reflexão de nossa arte.

Porém o que deveria ser motivo de comemoração para o teatro catarinense, hoje é motivo de preocupação, pois faltando apenas dois meses para a realização do evento ainda não há qualquer garantia de repasse dos recursos do Governo do Estado, através do Funcultural, patrocinador tradicional do Festival Catarinense de Teatro (www.sol.sc.gov.br). O projeto do 17º Festival Catarinense já teve seu mérito reconhecido pelo Conselho Estadual de Cultura e foi aprovado no dia 31 de Julho de 2012.

A Fecate mantém seus trabalhos em prol do evento, esperando sensibilidade do Governo do Estado para que seja possível a realização deste importante festival itinerante que desenvolve o teatro catarinense e beneficia milhares de cidadãos pelas cidades onde passa.

A Ingênua, da Téspis Cia. de Teatro, é um dos espetáculos selecionados.

Confira a lista completa dos espetáculos selecionados:

1. ©elas - Cia. Vai! de Teatro - Joinville
2. A Cripta - Turma do Papum - Florianópolis
3. A Ingênua - Téspis Cia. de Teatro - Itajaí
4. A Máquina Fermat - Cia. de Arte e Entretenimento Muiraquitã - Chapecó
5. Alcassino e Nicoleta - O Grito Cia. de Teatro - Blumenau
6. Amor Barato - Cia. Didois - Joinville
7. Amor por Anexins - Dionisos Teatro - Joinville
8. Chapeuzinho Vermelho na Terra dos Bonecos - Cia Alma Livre - Jaraguá do Sul
9. Clov’s O Internacionável - Teatro Lá Nos Fundos - Criciúma
10. Dois Amores e Um Bicho - Cia. Experimentus - Itajaí
11. Dois Cavalheiros de Verona - Projeto Shakespeare Livre - Blumenau
12. Dona Margarida - Cia. Teatro em Trâmite - Florianópolis
13. Espia Só - Cia. Andante - Itajaí
14. Folhetim - Grupo Porto Cênico - Itajaí
15. Era Uma Vez Outra História - Sinos Cia. de Teatro - Blumenau
16. Luisa - Cia. Experimentus - Itajaí
17. Migrantes - Dionisos Teatro - Joinville
18. O Carteiro - Essaé Cia. de Teatro - Dança - Joinville
19. O Contestado - Grupo Tejo de Teatro - Joaçaba
20. O Último - Grupo Detalhe de Teatro - Indaial
21. Patética - Ilustríssimos Senhores -Itajaí
22. Rigobello – O Inspetor Geral - GpoEx - Grupo de Experimentações Cênicas - Jaraguá do Sul
23. Uma Canção para Finfo - Cia. Caravana do Sonhar - São Bento do Sul
24. Uma Lady Macbeth - Harmônica Arte e Entretenimento - Florianópolis

domingo, 2 de setembro de 2012

Primeiras impressões

Meteoros estreou há pouco. E, fomos convidados a estender nossa estreia para a cidade de Joinville, participando do Cena 9 - Mostra de Teatro de Joinville. E foi aí que surgiram as primeiras impressões escritas sobre nosso trabalho, que obviamente compartilhamos com vocês.

Meteoros transforma a luz e a narrativa fragmentada em pontos de tensão

TEXTO: Johannes Halter

Quando oito lâmpadas acendem atrás de dois corpos, o público aguarda o próximo movimento da Téspis Cia de Teatro. Trata-se do espetáculo Meteoros, que foi apresentado no dia 25 de agosto na Mostra de Teatro de Joinville CENA Nove. Com o Galpão da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) lotado, os atores puderam apresentar uma experimentação artística nova para o público que prestigiou a noite de encerramento da edição 2012 da CENA.

As luzes começaram concentradas, oferecendo um ambiente de mistério ao Galpão. Como era móvel, a iluminação mudava de posição de acordo com a etapa em que a peça encontrava-se. Corpos clareados ou de aspecto obscuro foram elementos trabalhados para complementar a performance dos atores. Uma experiência desenvolvida em Meteoros foi o uso dos próprios atores para mover as estruturas que sustentavam as luzes do palco.

Se somente dois eram os envolvidos, o mesmo não se pode dizer das histórias que expressaram. A cada movimento das lâmpadas, surgia uma nova perspectiva da mesma história. A cada apagar total da claridade, uma nova narrativa. Mas, entre cada novo detalhe ou conto, aspectos da vida envolvendo curiosidade, felicidade e morte tomavam posição. Não aspectos banais desses elementos, mas perspectivas perturbadoras da vida humana.

Dois atores em cena também manipulam o foco e a direção da iluminação do espetáculo (FOTO: Glauber Ronsani)
Diante de reflexões e revelações, o público compreende de forma fragmentada o desenrolar da trama não somente pelo seu conteúdo, mas também pela forma com que as informações são apresentadas – de trás para a frente, de forma picada e com o desenvolvimento paralelo de histórias diferentes. O poder de concentração é desafiado em Meteoros, pedindo um pouco mais do que boa vontade para interpretar seu conteúdo.

Ainda assim, depois de entender o que se passa, os conteúdos trabalhados perturbam o espectador. Estupro, assassinato, mutilação, virgindade, paixão, infância estão presentes consecutivamente na interpretação de Denise da Luz e Jônata Gonçalves. A quebra dos valores convencionais do comportamento humano, ou aquilo que é aceitável na aparência social, leva a uma reflexão sobre o papel do indivíduo e dos valores de sociabilidade.

A peça Meteoros foi escrita em fins de 2011 e montada sob direção de Max Reinert. A estreia aconteceu em 18 de agosto deste ano, em Itajaí, cidade de origem do grupo que tem como características a experimentação e o uso de linguagens inovadoras a cada peça. Meteoros tem somente dois atores, que fazem o trabalho de interpretar e mover a iluminação do espetáculo com precisão, ao lado de uma sonoridade bastante presente no decorrer dos seus 50 minutos de duração.


Meteoros borra as fronteiras entre o espetáculo e o cotidiano

TEXTO: Bruno Arins

Para alguns, contar uma história é sempre um desafio. Há uma necessidade latente de fazer o ouvinte compreender muito além do desenrolar dos fatos. Anseia-se convencê-lo dos detalhes e de sua importância exatamente da forma como a história foi vivida. No teatro, esta suposta dificuldade pode ser tratada com o uso de elementos que servem de argumentos: cenários, objetos, figurinos, iluminação, trilha, tudo o que é permitido quando se trata de produção teatral. Este não foi o caso da Téspis Cia de Teatro, que resolveu fazer de Meteoros, apresentada no último sábado (25), na noite de encerramento da CENA Nove, um depoimento profundo, envolvente e emocionante.

Apropriando-se delicadamente de um texto cortante e sedutor de Max Reinert, os dois atores em cena se revezam para falar de suas angústias acerca do universo que os cerca, aproveitando-se apenas de holofotes que caminham pelo palco e, claro, de sua atuação persuasiva – que não é nem “emprestada”, é vivida. São dois pontos de vista de uma mesma história, duas interpretações, dois sentimentos. Porém, uma mesma angústia: vida e morte. Um deles mata para sentir-se vivo; o outro vive como se sentisse morto. Ambos, entretanto, equilibram-se em suas agonias, transmitindo veracidade, exalando dor e dividindo ansiedade com o público. Afinal, quem é a verdadeira vítima? Qual deles é o culpado, se o mundo é que quis deles que fossem assim? Aliás, para que procurar vítima e culpado se todos nós na vida somos ora vítimas, ora culpados?

Personagem ironiza a necessidade do artista em entreter o público (FOTO: Glauber Ronsani)
 “Se eu fosse uma atriz, me sentiria pressionada a fazer algo para entretê-los”, repete a personagem logo no início do espetáculo. Como se o entretenimento devesse existir somente do lado de lá do palco. Pois do lado de cá, da vida, tudo quase que é só entretenimento. Basta perceber o texto de Meteoros em que tudo é senão a nossa própria rotina, ou pelo menos da maioria. Agonia, dor, sofrimento é o que vivemos e morremos diariamente. Talvez por isso não são necessárias outras linguagens além do texto e da iluminação para representá-los e compreendê-los. Porque tudo na vida é ida e vinda. É encontro e despedida. É morte e vida. Vida e morte.