domingo, 2 de setembro de 2012

Primeiras impressões

Meteoros estreou há pouco. E, fomos convidados a estender nossa estreia para a cidade de Joinville, participando do Cena 9 - Mostra de Teatro de Joinville. E foi aí que surgiram as primeiras impressões escritas sobre nosso trabalho, que obviamente compartilhamos com vocês.

Meteoros transforma a luz e a narrativa fragmentada em pontos de tensão

TEXTO: Johannes Halter

Quando oito lâmpadas acendem atrás de dois corpos, o público aguarda o próximo movimento da Téspis Cia de Teatro. Trata-se do espetáculo Meteoros, que foi apresentado no dia 25 de agosto na Mostra de Teatro de Joinville CENA Nove. Com o Galpão da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) lotado, os atores puderam apresentar uma experimentação artística nova para o público que prestigiou a noite de encerramento da edição 2012 da CENA.

As luzes começaram concentradas, oferecendo um ambiente de mistério ao Galpão. Como era móvel, a iluminação mudava de posição de acordo com a etapa em que a peça encontrava-se. Corpos clareados ou de aspecto obscuro foram elementos trabalhados para complementar a performance dos atores. Uma experiência desenvolvida em Meteoros foi o uso dos próprios atores para mover as estruturas que sustentavam as luzes do palco.

Se somente dois eram os envolvidos, o mesmo não se pode dizer das histórias que expressaram. A cada movimento das lâmpadas, surgia uma nova perspectiva da mesma história. A cada apagar total da claridade, uma nova narrativa. Mas, entre cada novo detalhe ou conto, aspectos da vida envolvendo curiosidade, felicidade e morte tomavam posição. Não aspectos banais desses elementos, mas perspectivas perturbadoras da vida humana.

Dois atores em cena também manipulam o foco e a direção da iluminação do espetáculo (FOTO: Glauber Ronsani)
Diante de reflexões e revelações, o público compreende de forma fragmentada o desenrolar da trama não somente pelo seu conteúdo, mas também pela forma com que as informações são apresentadas – de trás para a frente, de forma picada e com o desenvolvimento paralelo de histórias diferentes. O poder de concentração é desafiado em Meteoros, pedindo um pouco mais do que boa vontade para interpretar seu conteúdo.

Ainda assim, depois de entender o que se passa, os conteúdos trabalhados perturbam o espectador. Estupro, assassinato, mutilação, virgindade, paixão, infância estão presentes consecutivamente na interpretação de Denise da Luz e Jônata Gonçalves. A quebra dos valores convencionais do comportamento humano, ou aquilo que é aceitável na aparência social, leva a uma reflexão sobre o papel do indivíduo e dos valores de sociabilidade.

A peça Meteoros foi escrita em fins de 2011 e montada sob direção de Max Reinert. A estreia aconteceu em 18 de agosto deste ano, em Itajaí, cidade de origem do grupo que tem como características a experimentação e o uso de linguagens inovadoras a cada peça. Meteoros tem somente dois atores, que fazem o trabalho de interpretar e mover a iluminação do espetáculo com precisão, ao lado de uma sonoridade bastante presente no decorrer dos seus 50 minutos de duração.


Meteoros borra as fronteiras entre o espetáculo e o cotidiano

TEXTO: Bruno Arins

Para alguns, contar uma história é sempre um desafio. Há uma necessidade latente de fazer o ouvinte compreender muito além do desenrolar dos fatos. Anseia-se convencê-lo dos detalhes e de sua importância exatamente da forma como a história foi vivida. No teatro, esta suposta dificuldade pode ser tratada com o uso de elementos que servem de argumentos: cenários, objetos, figurinos, iluminação, trilha, tudo o que é permitido quando se trata de produção teatral. Este não foi o caso da Téspis Cia de Teatro, que resolveu fazer de Meteoros, apresentada no último sábado (25), na noite de encerramento da CENA Nove, um depoimento profundo, envolvente e emocionante.

Apropriando-se delicadamente de um texto cortante e sedutor de Max Reinert, os dois atores em cena se revezam para falar de suas angústias acerca do universo que os cerca, aproveitando-se apenas de holofotes que caminham pelo palco e, claro, de sua atuação persuasiva – que não é nem “emprestada”, é vivida. São dois pontos de vista de uma mesma história, duas interpretações, dois sentimentos. Porém, uma mesma angústia: vida e morte. Um deles mata para sentir-se vivo; o outro vive como se sentisse morto. Ambos, entretanto, equilibram-se em suas agonias, transmitindo veracidade, exalando dor e dividindo ansiedade com o público. Afinal, quem é a verdadeira vítima? Qual deles é o culpado, se o mundo é que quis deles que fossem assim? Aliás, para que procurar vítima e culpado se todos nós na vida somos ora vítimas, ora culpados?

Personagem ironiza a necessidade do artista em entreter o público (FOTO: Glauber Ronsani)
 “Se eu fosse uma atriz, me sentiria pressionada a fazer algo para entretê-los”, repete a personagem logo no início do espetáculo. Como se o entretenimento devesse existir somente do lado de lá do palco. Pois do lado de cá, da vida, tudo quase que é só entretenimento. Basta perceber o texto de Meteoros em que tudo é senão a nossa própria rotina, ou pelo menos da maioria. Agonia, dor, sofrimento é o que vivemos e morremos diariamente. Talvez por isso não são necessárias outras linguagens além do texto e da iluminação para representá-los e compreendê-los. Porque tudo na vida é ida e vinda. É encontro e despedida. É morte e vida. Vida e morte.

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